Não é todo casal que, depois de alguns anos de convivência, se vê em meio a uma relação morna. Para manter o casamento firme e cheio de paixão cada parceiro deve usar e abusar da criatividade para não deixar que suas atividades pessoais e profissionais comprometam o andamento da vida a dois.
"A rotina não é, exclusivamente, a grande vilã na perda do brilho da conjugalidade. Outra causa da alteração do erotismo do casal é o aumento da intimidade afetiva", afirma a terapeuta de família, casal e sexual, urologista e psicodramatista Sylvia Faria Marzano.
A especialista, que também é diretora do Instituto ISEXP - Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática, usa uma frase da psicóloga Esther Perel para se explicar: "O que contribui para uma intimidade gostosa nem sempre contribui para um sexo gostoso".
"O aumento da intimidade afetiva muitas vezes é acompanhado por uma diminuição do desejo sexual. Meus pacientes relatam que se amam muito, mas transam pouco. Esse excesso de proximidade, como uma fusão do casal, impede o desejo. A previsibilidade é inimiga do desejo sexual", alerta Dra. Sylvia.
Quando um sabe exatamente do que outro gosta e como vai reagir a determinadas situações, a chance de o casal cair na acomodação a longo prazo é grande. A manutenção das mesmas coisas destrói a nossa necessidade de novidade e mudança. "Há a necessidade de mistério nos relacionamentos, que sugere uma conquista diária dos parceiros. Mas, dá muito trabalho conquistar. Com isso o casal vai deixando de lado essa atitude de busca de uma novidade, por estar em uma zona de conforto."
Se a intimidade é sentimental em excesso, o que deteriora é o diálogo. Um passa a ficar com medo de dizer o que pensa para o outro, com medo de magoar, e acaba usando a comunicação apenas para fazer cobranças e recriminações. A situação torna-se tão desconfortável, que o casal, em especial o homem, procura fugir dessas "conversas".
Apesar de muito esperada, a chegada dos filhos às vezes também atrapalha o desejo sexual do casal. O comprometimento só não é tão intenso se antes do aumento da família o casal já tem o costume de praticar o erotismo, pautado na imprevisibilidade, na espontaneidade e no risco. Neste caso a mudança é passageira e, em pouco tempo, os amantes retornam ao universo da conquista diária.
"Também precisamos entender que o pai pode não conseguir erotizar a mulher de sua vida por ela ter se tornado a mãe dos seus filhos. Isso é um fato. Como ver o parto do filho e imaginar o prazer que costumava ter com a genitália de sua mulher?", avalia Sylvia.
Não existe um manual para ajudar o casal a resgatar a paixão. A conjugalidade implica numa desconstrução, de mitos e tabus de cada parte envolvida. Tudo depende de como o psicológico individual está aberto para mudanças e adequações. Segundo a terapeuta, sem uma construção anterior à chegada dos filhos, fica muito difícil um terapeuta orientar que o casal deva sair para jantar ou viajar. Sem individualidade e novidade não há erotismo, e então, o desejo sexual morre.
"Não adianta eu pedir para que o casal frequentar um motel, por exemplo, se a rotina estiver na bagagem dele: os dois chegam lá e fazem tudo igual como em casa. Não é só o local o problema, mas sim o mental!", diz a terapeuta, que completa: manter a chama acesa significa colocar combustível!
Ela explica: "Aguce os desejos eróticos por meio da fantasia sexual. Ela trás mistério, gera desejo, intensifica o entusiasmo. Representa o que não temos coragem de fazer na realidade. Mas ela não nem sempre ela precisa ser totalmente revelada. A privacidade pode ser um fator importante de equilíbrio da conjugalidade."
Fonte: Vila Mulher